Fome. fome. A Fome. Fome do pescoço, de um lugar incerto e sem nome entre o queixo e a orelha. De me perder em dedos entre pelos úmidos de um suor macio e quente, num cheiro que mistura maresia, saliva, terra e grandes labaredas. Fome do gosto da língua na língua, entre dentes, nos lábios, ao redor, pelo rosto, que enrosca, enrodilha, provoca, penetra, lambe, toca leve e aflige, e depois é sugada com força. Fome de mãos se apoderando de carne, músculos e consistências diversas, puxando cabelos, marcando a pele em estalos altos, segurando a nuca, sentindo pulsações e temperaturas, sendo desviadas para outra direção e extraindo gemidos espremidos que soltam-se em golfadas. Fome de fundir a matéria em outra, de confundir pernas, braços, carnes, de ser consumida em loucura, em ondas, de despencar do teto do mundo e despedaçar-se em milhões de pedaços plenos em si, ungidos de êxtase e completude.
Fome de não faltar nada.
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